sexta-feira, 17 de abril de 2009

A descoberta

Tirou 9,5 na prova, podia ter tirado 10, o menino, mas pulou uma questão, não viu. Na mesa ao lado, os outros riam: ah, não sabe quem descobriu o Brasil. E o menino com vergonha de ter olho que pula, tratou logo de se defender. Foi a professora, ela escondeu a caravela do Pedro Álvares Cabral na outra prova, na minha não estava não.

A turma era cheia e era como qualquer outra: uma voz lá na frente ensinando historias que não eram deles e outras vozes lá atrás ensinando outras tantas mais interessantes. No meio, aquele monte de barulho de caneta passando no papel. E na primeira fila, o menino.

Professora, aquilo é um b ou um d? Ih, menino, é miopia. Você vai precisar usar óculos. A descoberta que não era do Brasil, mas que dizia muito mais ao menino do que qualquer outra. Do alto dos seus 8 anos, o menino encheu o peito de ar, como se garantisse um pouco mais de vida e perguntou: é grave, professora, essa miopia? Era mais uma descoberta que ela fazia naquela semana. E se é pra falar de gravidade, ela é quem tem mais historia pra contar. Não, menino, você não vai ter nem que operar. Sorte? Talvez. Pensava na mãe que, assim como o menino, não viu a doença chegando e agora uma operação já não seria mais a saída. As crianças riram, chamando o menino de quatro-olho. E dai? Se é pra ver melhor, que dessem 4, 10, 20 olhos à minha mãe e ela não estaria assim, como está agora. Calma, menino, de óculos você vai ver todas as letras, todas as perguntas da prova, vai até achar as meninas mais bonitas. E piscou pra ele.

Mas não tem outro jeito? Não tem outro jeito pra essa doença, que não essas sessões que a deixam fraca, coitada, olha como ela está magrinha. Não tem. Só usando óculos mesmo ou lentes. Você prefere lentes? São como gelatinas sem sabor dentro do olho. Professora, eu posso ligar pra minha mãe? Ela está fraca, eu já disse, mal vai conseguir levantar da cama e atender o telefone que está na sala.

Hoje foi um dia e tanto e quem é que se importa mesmo com a descoberta do Brasil?



sábado, 11 de abril de 2009

O tempo do tempo

Tem que pegar na mão esse menino – o tempo – e dizer: larga essas pernas de movimento. Pressa tem borboleta pra ver primavera. Você nem flor faz. Só vê. Então desengole as asas, respira. Faz fila atrás do antes. E bóia, só um pouco. Assim, bom menino. O tempo.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O tempo do corpo

O corpo presenciando outro corpo.
Se retrai. Não de prazer.
De medo por não saber até quando.
Minha alma lenta em descobrir paixões.
Até quando, amor?
Até quando amor?
O corpo não espera.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Jazz


Acordo com ele.
Durmo com ele.
Canto da boca vaga-lume.
Assopro. Ele.
Tomo uma taça com ele.
Um banho com ele.
Mudo o meu cabelo por ele.
Ouve, baby.
É Jazz.