quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Quotes #1

"Why are you leaving me?
He wrote, I do not know how to live.
I do not know either but I am trying.
I do not know how to try.
There were some things I wanted to tell him. But I knew they would hurt him. So i buried them and let them hurt me"

Jonathan Safran Foer

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Primavera

Terça-feira não é dia de receber primavera.
Não separei meu vestido de cor.
Não coloquei o sol virado pra janela.
Não acordei de bom dia, acordei de dia, só.
Pouco tempo faz que eu era cinza. E agora?
Seja terra, eu peço às mãos daquele homem.
Hoje eu queria ter nome de flor.

Fluxo

Quando sou água, atravesso sem que ninguém me veja. Inteira não suporto, você me dói.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A verdade é que


Eu me comovo com as palavras. As vezes eu apenas penso em escrever e já choro. As vezes eu espero que as palavras venham pra poder chorar. Depende. A possibilidade das letras arrumadas entrar em mim chutando a porta é muito grande. Todo o meu corpo se abre em afeto e fôlego. Eu existo.

sábado, 12 de setembro de 2009

Confissão #2

Todas as histórias aqui são inventadas. Todas as histórias se passaram comigo.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Quase

Tenho 5 ponteiros em cada mão apontando para um tempo que é unicamente o do corpo. Se alguém me perguntasse que horas são, eu poderia dizer apenas: hora de ser outra. E com isso não sei mais dizer quando cheguei aqui neste quarto ou quando foi que lhe vi pela primeira vez desse jeito tão, não sei, exposto? Sim, exposto é um bom adjetivo quando estamos assim quase-entregues. Pois que todas as minhas partes me lembram que somos um quase-casal. Que há algo entre nós, como um hífen, guardando a chuva do lado de dentro deste lugar. Quero me tornar uma mulher que não conhece formas retas, camas exatas, fatias de quartos. Anda e me bagunça, porque eu não posso mais dormir numa quadra de tênis. Estamos a beira de viver e no entanto, fazemos a volta. Você não tem um milímetro de amor e eu só sei andar pulando réguas de dois em dois.


(texto publicado em canetalentepincel.blogspot.com)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Portas Abertas

A generosidade começava no movimento das portas. Os armários sempre meio abertos, nunca fechados por completo. Como se as portas de madeira escura fossem uma senhora, muito vó, que já não lembrasse mais como se guardam os segredos. Camisa de seda com estampa de gaivota (mãe diz que essa era a sua favorita, pelo tecido, pelo desenho não) ponteando a gola pro lado de quem abre, e eu não sei qual leveza é maior, se a do fundo ou a do que voa. A camisa. Você era a fada mais bonita daquela apresentação de balé. Não era fada, vó, era bruxa. Pois era tão bonita, que pro meu olho, apareceu fada. Ganhei flores e abraços de gaivota nesse dia. A camisa. Você lembra da vovó com esses óculos redondos?, pergunta minha mãe. Lembrar, às vezes, é viver com saudade. Desde que a vovó morreu, eu vivo com saudade os óculos redondos, os telefonemas de domingo, o sotaque de quem trocou uma casa longe por outra aqui. O sotaque de quem perdeu bonecas, quintais com árvores, de quem perdeu mãe. Vó, não é dois pessoas, é duas pessoas. Galinha é galinha e pessoa é pessoa. Isso eu preciso saber, o resto não me amola. A gente ria. Era engraçado? O sotaque. Esses óculos voltaram a estar na moda, você sabia? Quer pra você? Não ficam bem pra mim. Visto os óculos, servem perfeitamente para o meu rosto. Minha mãe ri e fala com um certo tom de deboche: por que você sempre gostou dessas coisas que não são muito do seu tempo? Talvez porque eu nunca tenha conseguido tirar as pessoas das coisas. E as melhores pessoas estavam dentro das coisas mais fora do meu tempo. Ou mais dentro. Acontece. Respondo apenas: não sei, é gosto. Não são só estes óculos que colocam o passado no meu rosto.