sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A vida é filme

12 filmes em janeiro. O ano começou assim, com uma película na frente dos dias. Interruptor pra amor não funciona, baby. Se funcionasse, estaríamos off, um pouco on, sometimes, mas off, definitivamente. Comecei vendo aquele da Sofia Coppola, você também gosta. Os dois em Tóquio e você sabe que eu nem ligava pra cidade até ver o filme. Downtown oriental é muito mais charmoso. Tipo Nova Iorque só que você entende menos, não o porquê das luzes, mas o que elas querem dizer. Sabe aquela parte em que ela diz que eles nunca mais devem voltar pra lá porque nunca mais será as much fun? Ai, eu acho tão lindo. Se eu pudesse, eu nunca mais iria àquele cinema de Botafogo, o mais perto da praia. Lembra do dia em que o bebedor espirrou água na sua camisa e você entrou no cinema completamente encharcado e uma senhora perguntou de uma forma tão sincera se estava chovendo lá fora e você, para não fazê-la se sentir mal, disse com a maior naturalidade do mundo “um pouco”, lembra? Eu lembro na hora do filme com a Catherine Deneuve – como eu queria ter o rosto dela – cantando por Paris. Foi o segundo filme ainda no primeiro dia do mês e o cartaz com ele e ela e o guarda-chuva continua no meu quarto. Acho que decidi que o meu filho (quando eu o tiver) vai se chamar Nino por causa do ator ou por causa do personagem que eu amo, esse você sabe bem, é um filme que fala tanto de mim, já pensei cem vezes em guardar uma caixinha dentro da parede do meu banheiro que é pra daqui a 50 anos, transformar a vida de alguém. Vamos nos casar na Catedral de Montmartre? Não precisa nem ser lá dentro, pode ser na escadaria mesmo. Sonho com bastante freqüência que estou lá. Especialmente quando estamos off, eu e você, ver o filme não ajudou muito. Vi também aquele que você me recomendou, o que o cara perde a memória e a historia é contada de trás pra frente. Minha próxima tatuagem vai ser uma foto Polaroid. 12 filmes em janeiro. Abri a caixa de DVD e veio um poema. Era aquele israelense, revi 3ª feira. Nem o Amos Oz faria um filme desses, nem Drummond, tenho certeza. Voltei cinco vezes a cena dele cantando “My Funny Valentine” no aerporto, era como se fosse pra mim. Uma 3ª feira pode ser tão perdida quanto uma orquestra mal regida. Vi uns filmes bobos também, de super-heróis pulando sobre prédios, dando beijos de ponta-cabeça, e eu ainda tenho a impressão de que os nossos eram mais mágicos. Você também? Enquanto estamos assim distantes, você gostaria que eu deixasse um monte de fitas gravadas pra você ir ouvindo aos pouquinhos, conforme fosse sentindo a minha falta? Vi isso em outro filme e chorei dois baldes de saudade. Era de uma mãe para as filhas, mas era amor, você me entende? Se eu fosse a personagem da história de alguém, eu pediria agora que a minha autora – e digo autora porque sei que uma personagem como eu, só poderia ter sido desenhada por uma mulher – que me desse um cookie de baunilha com chocolate, é urgente. Tanta coisa é. Os filmes do Woody, por exemplo, vi 3, esse mês. Ouvi Gershwin até dizer chega. Parecia que eu já acordava com o barulho do piano. Por acaso você cresceu numa casa sob uma montanha russa? Desculpa, eu não podia perder a piada. Finalmente decorei o poema do e.e.cummings e prometi pra mim mesma que vou tomar um Milk Shake daquele que ele toma com a Mariel Hemingway no balcão da lanchonete. Me encontra numa lanchonete perdida no meio da cidade? Ver filmes me deixa com tantas idéias. Me encontra numa cidade em que só se chega de trem, não vou citar Montauk, porque seria um golpe muito baixo. Vi esse também. Se eu soubesse o peso da memória, pediria pra nascer com uma sacola em cada braço para suportar a vida. Mas estou bem. Desligo o interruptor. Estamos off, baby. Estamos? Já é tarde, acho que vou dormir.

3 comentários:

  1. isso aqui talvez ajude: http://lacunainc.com

    gostei dos textos!

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  2. pro peso da memoria acho q precisamos de bem mais q 2 sacolas...

    quero rever todos!!

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