sexta-feira, 26 de agosto de 2011
perdeu-poeta
quando um bandido vinha roubar meu carro.
está bem, mas posso só levar comigo umas coisinhas?
muito gentil e educado,
o bandido me deixava pegar
dois celulares
uma velha carteira roxa
e uma mochila quadriculada.
esqueci no chão meu caderno de poesia,
posso levar também?
mas isso não tem valor nenhum, moça.
arrancou com o carro
sumiu na primeiro de março
e eu abraçada com o caderno
dizia
pra mim, tem.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
ônibus-surpresa
nenhum homem armado,
nenhum bebê chorando,
nenhum grupo de crianças saindo da escola,
nenhum motorista descontrolado.
no banco da frente,
de canetinha preta,
a frase:
“não diga que o céu é o limite se tem pegadas na lua”.
e eu só estava indo para o largo do machado.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Pra você
É, meu amor, parece que sim, que nós, do jeito que viemos ao mundo, com a sabedoria inicial ainda intacta e um colo a 36 graus para acariciar os pulmões, ainda estamos inteiramente vivos. Expandir e contrair não mais dói, salva, mas o sorriso – como se fosse o primeiro, em dó maior – persiste. É, meu amor, parece que é, sim, um longo começo, os outros nos olhando como naquela vitrine, o berço da nova civilização que seremos, e a vitrine será um espelho, porque os outros também somos nós e tudo é novo e puro e doce, como o mel, amor, como o meu, amor, os meus dias cheios de sol e sou grata por você ser parte deles. Você, o meu amor, ou eu, agora, hoje, parece que sim, somos um.
quinta-feira, 12 de maio de 2011
pra longe, bem devagarzinho ou cinco coisas que aprendi em uma tarde:
Encontrar uma criança com o uniforme da escola onde você estudou, emociona.
É possível passear com uma tartaruga na grama da lagoa. Ela bem que acompanha.
Se eu desse a volta inteira, não encontraria um coco melhor do que aquele. Palavras do moço que me vendeu.
O passeio de pedalinho custa 20 reais, por meia hora.
A diferença entre um homem e uma mulher é que a mulher tem bem mais coração. Palavras do moço do pedalinho, ao ver uma mãe, morrendo de medo, enfrentar a lagoa, por causa do filho.