terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Despedir


Todas as partidas são idas em partes. Vai um pouco ela. Outro pouco fica. Vai voltar para buscar a roupa semana que vem, pega o resto que sobra. Deixa o sabonete na metade, no banheiro. Um sabonete nunca entrou num caminhão de mudanças. Ele fica partido. Ele sim é só. Vai a bolsa grande, de lona, preta, dois bolsos na frente, pras chicletices de mulher, zíper-estrada, vai. Fica a verde, pequena, de fim de semana, não usa muito. Espera a próxima vez. Isso é uma despedida. Ela deixou de pedir sua metade da cama. O lençol que era cor de delicado de cereja ela já vê vermelho ou rosa ou nem liga, porque se não o pede, não se dá a ele em circustância de ver com afeto. Não peça mais esse quarto, ele diz. Despeça os finais de semana com vinhos na mesa baixa e jantares iluminados e depois despeça os finais de semana com as vozes das crianças e os com as vozes da memória de se ter pedido, um dia, há tempos, uma vida juntos. Despedir é ir, despedaçado por vontade, pedindo só que o longe esteja. E no silêncio das palavras perdidas, eles se vão.

2 comentários:

  1. "Todas as partidas são idas em partes."

    "O trem que chega é o mesmo trem da partida."

    Partiremos. Todos. Um dia.

    Beijos saudosos,
    Ana

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