segunda-feira, 11 de maio de 2009

Água doce

A cidade amanheceu um rio. Mesinha da criança na escola é o joelho da cidade. Água até lá. E como. Madame escuta que ainda tem peixe no mercado. Mas quando viu, já passou. Moço da farmácia bate os pés e as mãos bem rápido pelo caminho pra conseguir entregar o remédio da menina. É quase uma prova com obstáculos. Passa por sofá laranja-marrom, cor de pingo que suja. Passa por pneu de borracha. “Algum carro ficou órfão de sua pata por aí”, ele pensa. Passa por sacolas de padaria, bolas de futebol, sem criança correndo atrás, estranho. Estranho bom. A cidade é um rio, agora. Há quem diga que a chuva castigou nesta semana. Ninguém sabe que foi a menina. Ô, menina, você não sabe que um choro teu enche um rio? De pessoa doce, água gêmea. Lágrima pegou tua doçura e inundou a cidade. Não, não vá chorar mais por culpa. É bonito de ver a cidade barqueando na tua tristeza. Deixa. Não vamos contar a eles que não foi a chuva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário