quinta-feira, 18 de junho de 2009

O primeiro

Foi um fato que se deu, um dia, se abriu. O primeiro. Éramos dois pequenos. Eu maior. Pai me fez maior da turma de compridez, mãe me fez de coração. Era uma menina que cabia pouco. Mas, nesse dia, a régua faltou. Ele me abria sorriso porque era arredondado de barriga. Os outros me faziam mostrar menos dente. Quem faz desfeita com açúcar, gente doce desconfia. Inteligência se afeiçoou a ele e a gente escadeando mais alto no pátio da escola pra ouvir as coisas acontecidas, até mesmo em número, na voz dele. Eu perguntava: essa não é a voz mais passarinhosa do mundo? E as meninas botavam o olho longe. Só eu mesma que achava. Foi quando ele pegou os meninos pra dar interrogação: o sorriso dela não é o mais? Prefiro a Fernanda, disse um. Depois da Carol, disse outro. E ele botando ponto final sozinho na duvida. Gostando. A gente precisa dar fim a essa coisa de engolir borboleta. Tristeza é botar elas pra dormir. As minhas não tinham sono há muito tempo. Um dia, ele disse que vinha em casa falar. Eu: é assunto de doença? Ele: mas num mata, eu acho. Eu: é assunto de ir pra longe? Ele: só se for junto. Foi quando ele barulhou na porta. Entrou. Peixeou no sofá azul, na ponta, sem muito mergulho e levantou um papel que falava: eu gosto de você. Só o papel pra falar mesmo. Eu, nada. Era muito. Era o primeiro.

2 comentários:

  1. eeeee!

    esse texto (como todos os seus) é além de amor puro pela vida, é amor tão belo às palavras...
    lindo.

    obrigada : )

    beijo!

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  2. lindo lindo! texto sincero e pingando de ternura...como vc!

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