quarta-feira, 11 de março de 2009

Parallel Synchronized Randomness



Ele sorri. Eu dobro meus joelhos e estendo meu corpo por sobre uma pedra gigante, o peito endurecido de cinza, um arco que se forma com os braços encompridando-se em sua direção. Ele sorri e o meu estômago se comprime. Mais e mais, à medida em que a boca se alarga. Quase não posso engolir essa nossa saliva tinta de vinho. Tento esticar um pouco uma das mãos, como se assim pudesse tocá-lo e fazer parar o movimento da sua boca, de maneira que eu, que já quase não respiro, possa de novo voltar à superfície. 


Mas como? Eu penso, como ele consegue me ver aqui debruçada sobre um peso que não é meu, que não sou eu, e que aos poucos – eu começo a temer – faz com que a frieza monolitica e eu sejamos uma. A rocha multiplicando sua imobilidade.

É com um último fio de delicadeza, então, que eu tento puxar algum ar, apenas o suficiente, para dizer com todas as letras, sem pular nenhuma – não teria forças – e-u-p-r-e-c-i-s-o-d-e-u-m-p-o-u-c-o-d-e-c-o-n-f-o-r-t-o. Abraço cada letra enquanto falo. E ele, ele sorri, com mais vontade agora, e até separa um pouco mais os lábios, como se fosse, não sei, gargalhar? Um movimento letal. Ele parece não me ouvir e eu não sei falar maior. Minhas pernas estão esmagando a pedra, enquanto ela responde com uma força equivalente, de mesma intensidade, apenas de sentido contrário, a lei da dor descomunal, segundo a física moderna. Eu não páro, nem a pedra, nem ele, nem eu, nem a pedra, nem ele. A delicadureza,
apenas.

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